quarta-feira, abril 13, 2011

14 de abril de 2010

Durante muitos anos, em criança e até na minha adolescência, enquanto caminhava sozinho, apanhava as pedras que encontrava no chão e magoado por ninguém as ter notado, levava-as para casa e punha-as à volta dos canteiros das azáleas.

Sempre gostei de azáleas, das brancas, sobretudo. Mesmo sabendo que eram as que perduravam por muito pouco tempo por serem mais delicadas. Como as amava, punha as pedras à sua volta, para que ambos tivessem companhia.

Hoje em dia, quando olho para o jardim, recordo com saudade. As azáleas cresceram e continuam fartas de flores pela altura da Páscoa. Um manto branco sobre o relvado. As pedras? Foram completamente abraçadas pelas ramagens finas e folheadas que compõem os canteiros.

Depois destes anos todos, já não vejo os canteiros com tanta frequência, embora me recorde sempre deles na altura Páscoa. Lembro-me das pedras e sei que ambos fazem companhia um ao outro, completam-se, pois as raízes das azáleas abraçaram-nas e deram-lhes uma importância que na rua não teriam.

Hoje, ao olhar para a minha cómoda cheia de pedras, algumas apanhadas na tua companhia, pergunto-me, sobretudo hoje, se um dia as trarei para junto das tuas azáleas. Sei que elas precisam de carinho, dedicação e um suporte para que cresçam bem fortes. Só não sei se as minhas pedras estarão dispostas a abrir mão da liberdade delas, em detrimento da beleza dos teus canteiros.

Nunca te escrevi directamente nada. Possuo pensamentos, poemas e pequenas mensagens que escrevo quando acordo na calada da madrugada e guardo, religiosamente, no meu telemóvel. Tenho de todos os sítios que passámos juntos. De lamúrias, de picos de felicidade ao teu lado. Agradecimentos por te ter encontrado. Mas, efectivamente, nunca te mostrei nada. Escrevo-te agora com raiva, mágoa e alguma insegurança. Por ver que por mais que te peça ou explique as coisas, tu não ouves e até vás contra elas. Isso magoa-me, pois faz-me lembrar as pedras que um dia eu nunca as levei para cima do meu móvel, que estão inertes nas vielas, a serem pontapeadas por todos aqueles que não conseguem ver a sua beleza. Sinto-me uma dessas pedras, sabias?

Sei que lerás e reflectirás até. Basta saber se estarás disposto a terminar sozinho com os teus vasos de azáleas, que, possivelmente, nunca virarão canteiros forjados com pedras.

Espero que compreendas a metáfora, pois não me ocorreu mais nada, em menos de meia hora.

segunda-feira, abril 04, 2011

Contínuo

Caminharás,

Mesmo que as intempéries

Te neguem o céu azul

E te sintas com frio e molhado.

Sobreviverás,

Tal como os muitos miseráveis,

Sem-abrigo,

E até a criança que chora

À espera de um afago.

Continuarás,

Pois tens força

E uma áurea

À tua volta.


Glaukwpis

Guardo na memória

Ensinaram-me a me distinguir não pela diferença de cor, da minha condição social e outros traços. Ensinaram-me e fizeram-me distinguir enquanto metáforas personificadas, que fazem arrepiar o valor que qualquer indivíduo deve ter dentro de si o respeito e a singularidade. A tolerância, até.

Ensinaram-me e neste momento sinto-me enganado, mas com forças de mostrar que não virarei as costas aos meus ideais, escolhas e desejos.

Ensinarei, sem me esquecer que também sou parte deles

Vou ensinar que todos nascemos num cosmos, onde somos estrelas e forças supremas, capazes de brilhar e de nos distinguirmos num milhão de outros seres. Que poderemos ser ou tão brilhantes como as outras estrelas, mas que, efectivamente, nos distinguimos uns dos outros na nossa posição no Universo. Que não nos deveremos por á frente dos outros. Que nunca nos devemos apagar, em deferimento dos outro. Ensinarei que mesmo que não estejamos a brilhar como as outras, para mim serão sempre únicos e parte do meu Mundo.

 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...