quarta-feira, março 22, 2023

 Sobre a mão


Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso,

Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios,

Sem os espasmos de sofrimento e o cheiro a formol que me banha,

Nas noites abusadas pela solidão.

 

Se pegasses na minha mão, saberia a importância da comunhão,

Dos dias que ansiei ao andar, ao teu lado,

No quente areal,

E das noites rasgadas por cacos de vidro a cair na imensidão no negro do céu,

Enrolando dois dedos, de cada um de nós, como as nós dos marinheiros de Ceuta.

 

Se pegasses na minha mão, saberias como elas transpiram,

Como aquecem,

Como tremulam,

Como irradiam luz pela chaga que a caracteriza.

 

Se pegasses na minha mão, seria mais um dependente,

Guiado,

Desorientado,

Necessitado,

Condescendente.

 

Pensando bem, não pegues na minha mão,

Colhe antes a minha alma,

Para a semeares nas lameiras,

Deixando que a água do rio a banhe,

E a adubes com esperança

Para colheres o fruto que te posso dar.

terça-feira, março 31, 2020

Quod scriptum est...

É o que eu digo... promessas ao vento e uma mão dada de palavras por semear. 
Não tenho escrito nada consistente desde 1 de janeiro, aquele 1 de janeiro com  uma lista cheia de coisas para fazer. Uma delas era, é, será – e tantos tempos que forem necessários – escrever com alguma regularidade.  

Falhei, como tenho falhado nalgumas coisas.
Passou-se imensa coisa e o que mais nos tem atormentado tem sido a pandemia do Covid-19.

A primeira vez que ouvira teria sido na tv, sobre a China. Imediatamente fui ao Facebook e procurei informações na página da S.A., que dizia estar a dar aulas em casa. Foi um misto de suspense, alegria, por ela estar bem, e a curiosidade de se dar aulas por videochamada. Passados alguns meses, estou no mesmo barco. A curiosidade foi experimentada e não tem bom sabor.

En passant, em finais de fevereiro, estive em viagem de finalistas com as turmas do secundário. 
Veneza, Florença e Roma. 
Tudo poderia ter sido melhor, se não houvesse um refilão pelo meio, uma mão de alunos armados em seguidores da wodka, uma colega-perigosa, onde o excesso de base já não disfarça as rugas provocadas pelo excesso de sol e horas de ginásio, e o pior, a entrada do Corona Virus em território italiano, a 300kg de Veneza.  

Trocas de emails, grupos no whatsapp, chamadas telefónicas para Lisboa, Viseu e até para o Brasil. Trocas de mensagens. Uma bateria que não chegava para meio dia. Os alunos enojavam-me com a expressão “corona time”, que se repetia sempre que um frasco de álcool era parido de uma algibeira, mas, ao mesmo tempo, as gargalhadas e os raptos da mascote que teve direito a uma página no Instagram, O gin. 

O regresso foi de quarentena, pois as notícias nacionais referiam algumas vezes o nosso grupo.  O medo miudinho de seremos postos de parte no regresso do aeroporto pelos EE ou por perguntas menos transviadas por algum canal noticioso foi saltitando de peito em peito.  

Dias de quarentena. Uma semana de aulas, regresso à quarentena, pois foi tornado público o estado de calamidade e de possibilidade de infeção. 
Pandemia,
do grego παν [pan = tudo/ todo(s)] + δήμος [demos = povo]),
 isto é, a puta de uma doença que passa para a toda a população. Como a Peste Negra na era medieval.

À pala da composição morfológica estou novamente confinado à casa. A dar aulas, a ter reuniões, a tirar dúvidas, mesmo que escassas, pois os alunos nunca têm dúvidas, pois as suas cabeças são mais cristalinas do que a máquina do tempo... e a deprimir, a ver o mar da varanda, o farol do Cabo da Roca a piscar de cinco em cinco segundos, noites a fio, os vizinhos que passeiam os cães, os vizinhos de luvas e máscaras, os vizinhos com sacos de compras, os vizinhos que oiço a entrarem no elevador e fecho a porta do hall de entrada para impedir que o barulho deles me entrem em minha casa. 

As notícias multiplicam de dia para dia, num exercício que podia ser lógico, mas é medonho, o número de mortos. A existência humana diminui. Os gráficos de taxa de mortalidade ultrapassam os nascimentos. É como se num lavatório escorrêssemos a nossa população envelhecida. 

E hoje, no meio de um transe desmedido, dos vários que tenho, fomos a Sintra. Fizemos a estrada sinuosa da Vila à estrada da Praia das Maçãs. Passámos pelos portões da Regaleira, à esquerda, e de Monserrate, à direita, gradeados, com os guichés fechados. 
Sem vivalma. 
O alcatrão estava mais escuro e, agarrado aos muros, havia jarros. 
Trouxe cinco. Lembram-me a tia Micas, o tio Agostinho, o meu pai que diz que sempre que lá estou há flores em casa. 
Por isso, tenho-os na sala, 
Todos os que falei e colhi: 
os jarros, as pessoas e os recortes de verde e alcatrão por onde passei. 

quarta-feira, janeiro 01, 2020

Faz as malas,
Roda o globo,
E na incerteza do sítio que queiras conhecer,
Parte e vai com o vento.

1 de janeiro de 2020




Como é hábito, pelo 1 de janeiro, as pessoas têm uma mão, ou até duas, cheias de desejos para o ano que se advinha. 
Faz-se um rascunho, bem ou mal elaborado, reflexivo ou, simplesmente, momentâneo, com um conjunto de nomes comuns que ambicionam como desejos para mais uma caminhada no calendário de 12 meses. 
Há quem priorize viagens, fins de vícios, melhoramentos de hábitos de alimentação, de equilíbrio emocionais, um rol de coisas que se esquecem no segundo, quando não no primeiro, dia do ano. 
Seria completamente hipócrita se eu não me adicionasse nesse grupo. Há tanto por descobrir, há tanto por se fazer, há tanto para subir essas escadas. Mas também há patamares que devemos parar, contemplar, agradecer e olhar para trás e, com os olhos postos num passado, seja ele muito longínquo, ou não, perceber o quanto nos custou conquistar alguns degraus.
A minha mãe, quando se recorda de me parir, diz que lhe partiram uma costela, para que eu saísse para este mundo, mundo esse que amo e vivo intensamente. Costumo dizer, num tom de brincadeira, como se recordasse, que ao sair, cravei as minhas unhas nas suas entranhas e gritei que a culpa era dela de eu vir ao mundo. Curiosamente, quando me limparam, diz ela que, ao me trazerem para o seu colo, disse que eu era sujo e que me tirasse dali. Nós somos assim, dramáticos, dentro do nosso género de amar. Intensos, imortalizando o momento e deixando estórias que hão de perdurar a cabeça de quem as ouve. 
A caminhada nestes 40 anos tem sido muito positiva, mas nem sempre fácil: passagem por três países, e respetivos continentes, na procura de uma vida, sonho, ambições pessoais e profissionais melhores. O percurso foi tendo pedras, como as que Pessoa deixou num poema. O castelo foi se transformando em estrada, daquelas romanas, que nos definem e que qualquer viajante que nos queira conhecer, compreende porque somos da forma como somos, porque amamos o que amamos, porque temos gargalhadas rasgadas e sonoros ou gritos de raiva, que são somente pedidos de ajuda. 
Neste momento estou num patamar a olhar para os sítios por onde passei, a recordar as pessoas que conheci, os seus defeitos e virtudes, que me fizeram afastar-me ou querê-las ao pé de mim. 
Nesta última década e alguns anos tornei-me professor, por opção e alguma devoção, sem um único dia dizer que fizera uma escolha infeliz. Obviamente que tenho dias menos bons, com confrontos de ideologias que chocam com a estupidez adolescente ou a inconsciência parental, que fazem parte para me moldar, de me ensinar mais sobre o ser-humano, ou como ser melhor educador. 
Na última década também me apaixonei. E continuo apaixonado como no primeiro dia, naquele 4 de setembro. Há barreiras, há intransigências da minha parte, alguma aceitação, poucas resignações, mas, sobretudo, agradecimento por a pessoa ser a pessoa que é: devota, tolerante, de uns olhos redondos e azuis de céu que me transmitem felicidade, calma, mas também alguma raiva pela forma aparentemente despreocupada que tem. Neste patamar também sorrio por estes anos de camaradagem, conforto nos abraços e pela nossa viagem. 
Infelizmente nestes últimos anos tenho passado, também, por momentos menos bons. De algum desgosto com a vida, por me ter tirado algumas pessoas, mais de outras do que minhas, vendo que, de facto, ela é um fio muito fino e perene. Agravando a perda dessas pessoas, muito ou pouco fizeram parte da minha construção enquanto indivíduo, tenho a minha irmã, a de sangue, que passa por uma tempestade. Houve noites em que não dormi, pensando no caminho incerto, pensando na dor da minha mãe, pensando na dor da minha irmã enquanto mãe. 
Não somos eternos, nem os momentos o são, mas podemos fazer com que eles se façam sentir mais e melhor, de forma a perdurarem no tempo como memórias. Para isso é preciso dar o nosso melhor, valorizando alguns acontecimentos, desvalorizando outros, deixando por escrito alguns. 
E amigos? Ah, os familiares que escolhemos. Que se sentam nos nossos sofás, que partilham felicidades e ansiedades. Que nos ajudam na caminhada. Que partilham garrafas, cigarros, gargalhadas, histórias e estórias. Alguns também têm passado por tormentas. Daquelas que Camões fala no Fogo de Santelmo ou na Tromba Marítma. Eu prefiro acreditar nas palavras de Pessoa como forma de as confortar: Deus ao mar ao o perigo e o abismo deu / Mas nele é que espelhou o céu. Vai ser fácil? Não sabemos. Mas podemos ter a certeza de que, se tirarmos partido das coisas boas do momento, já é meio caminho para a nossa felicidade. 

E como o mar foi e sempre será uma referência para coisas boas e más nesta vida, fui hoje à nossa praia, ver o Atlântico, naquele sítio que vamos a todas as estações, que leio, que trabalho, que apanho sol, que me atrevo ao mar, que faço caminhadas, que tiro fotografias, para entrar neste ano, como nos anteriores, da mesma forma. Percorremos o areal e as rochas, senti a maresia no rosto, o corpo frio e depois quente, marquei o areal com os meus ténis e trouxe-o para os tapetes do meu carro. 

Agradeci a Deus, à minha maneira.
 Voltei para casa, 
Acendi a lareira, 
Adormeci, 
Enervei-me, 
Jantei, 
Troquei mensagens,
Vi imensas fotografias do presente e do passado. 

Olho agora para a gata, defronte para as labaredas, a ajeitar-se no pufe,
E não tarda vou ver um filme, enquanto oiço, vindo do quarto, sons sinistros de uma série sobre bruxas. 
Há anos que escrevo, mas não tem sido quotidiano. Vamos lá ver se nestes novos anos 20 passa a ser. 
Um feliz ano novo,
Boa caminhada,
De mãos dadas, sempre.

sábado, abril 21, 2018

Meias

Oiço o vento a soprar da chaminé para a lareira
E vejo as gotas na janela da sala.
Mal se vê a cidade.
Há uma neblina e ondas de chuva
Que baloiçam de um lado para o outro.
O chiar do vendo não abranda.

Dá-me sono.

A televisão ligada.

Gato dorme.
A gata sopra.

Tenho meias.

É abril.

sábado, dezembro 16, 2017

Uma pessoa lembra-se de ligar o antigo portátil para descarregar fotos e depara-se com um blog cheio de pó e com disparates de há muitos anos. 

Vamos lá por isto a funcionar como deve ser. Vamos trazer mais cor, um diário, algumas crónicas e fotografias. 

Gosto de Sintra, sinto-me atraído por Lisboa, quero, um dia, viver no Alentejo e gosto, de forma esporádica, de ir às Beiras ver os meus sobrinhos e a minha mãe, andar pelas ruas da cidade que me educou. Por vezes, meto-me num avião e vou conhecer sítios. Meto-me muitas vezes na estrada e percorro Portugal de uma ponta à outra. 

É sobre que vou escrever, voltar a escrever, ou partilhar textos que fui escrevendo durante os meus anos em África, ou das minhas recordações nos três continentes em que vivi. 

Não tenho aspirações que isto seja seguido. Servirá, somente, para organizar os meus dias. Ou as minhas noites. 

Partilhar sítios, sensações e deixar dicas de coisas engraçadas. Afinal estamos todos em rede. 

(foto dos Jardins do Palácio Nacional da Pena, muito mais apetecível nestes dias de frio.)

quarta-feira, abril 23, 2014

Chove há três dias. Chuvas consistentes e a atmosfera mantém-se quente e húmida, para além do meu corpo, que desde os pés, até à gola do pólo tenho tudo encharcado. 
A parte da manhã foi repleta de aulas, a falar sobre o mito do Adamastor. Escolhi, juntamente dos miúdos, o rapaz com a voz mais grossa e em cima da cadeira, de frente para nós, leu todo o discurso do gigante. Nós, sentados, fizemos de navegadores e eu, como sempre, de Vasco da Gama. 
Penso que perceberam a importância do mito ao lado do medo. Penso que também entenderam que somos capazes de ultrapassar as nossas dificuldades se tivermos coragem de as enfrentar. Foram duas aulas feitas da mesma forma, embora  em ritmos diferentes. 
E saí a transpirar delas e, mais uma vez, gostei de ter dramatizado as minhas aulas. Aliás, a minha pré-tese é sobre isso: A dramatização nas aulas para a captação da atenção dos alunos. Funciona sempre e aprendem no meio de tanta diversão. 
Como tinha de ficar mais dois blocos na escola, nos chamados "furos", decidi tratar de coisas chatas, relativas às reuniões de Encarregados de Educação. Sempre detestei ser Diretor de Turma e este ano calhou-me a coordenação do cargo. Algo duplamente monótono, quando o que eu gosto é de ter as mãos cobertas de giz e o quadro cheio de palavras. 
Ao passar pela sala de acolhimento, a Diretora chamou-me. Tinha dois jornalistas. Um deles fora aluno do Instituto e vinham fazer uma matéria sobre o Dia Internacional do Livro e dos Direitos de Autor. Pediu-me que os levasse à biblioteca e que rebuscasse alguns alunos para falarem dos livros que liam.
(E eu tremi e senti-me pequenino, pois deixei passar o dia, por lapso, por falta de rigor às datas referentes ao que me compete.)
Segui e arrastei uma colega. Levámos garotos, foram inquiridos, filmados e, no fim, dei uma entrevista, respondendo às perguntas "Qual a importância da leitura?"; "Os alunos lêem menos?" e terminei dizendo que como professor de Português, arranjo estratégias de os cativar. Tarefa que não é fácil no meio de tanta nintendo e ipad. 
Dei mais um bloco, almocei a correr, pois à tarde teria a reunião de Encarregados de Educação. Dar as notas, dizer que estudam pouco e que os pais estão a falhar em casa... Uma tarefa chata, pois, (in)felizmente não sou pai e sei o quão difícil é ouvir algumas coisas. Uma das senhoras, ao sair, por viver perto de mim em Lisboa e criarmos alguma empatia, perguntou como estava a minha mãe e a minha namorada. Foi um misto de sensações e, eu gelado no meu pensamento, sorri e disse que estavam bem e que já tinha saudades. 
Pelos vistos ser Diretor de Turma também tem coisas boas. Aquilo que chamamos de afeto... 
A puta da vida surpreende-nos, às vezes mais do que algumas pessoas. 

terça-feira, abril 22, 2014

Quando cheguei na ilha, no passado sábado, senti a mesma sensação de quando chego a Portugal. Estava feliz, olhava para os sítios com algum apego e tudo me fazia pensar que estes três meses que me faltam para o fim do ano letivo seriam leves e fáceis. Contudo, nada passava de algo momentâneo, pois em menos de 48 horas, o meu desejo de sair daqui era mais rápido do que a velocidade da luz.
A luz é algo importante na nossa vida. Com ela vemos efetivamente o mundo que nos rodeia e conseguimos compreender o que na escuridão nos pode assustar. 
Não é fácil estar num local onde sabemos que se relacionar com pessoas do nosso país é algo difícil. Onde as relações não são por interesses de gostos, não é pela cumplicidade, ou até mesmo pela partilha da dor de estar longe. Senti-o desde cedo e para me refugiar, centro-me no trabalho. Em pouco tempo criei um laço, com uma pessoa que partilha da mesma dor e de alguns medos, alguns iguais, outros completamente diferentes. Com ela, passei momentos de felicidade, de nostalgia, de descoberta e algumas largas horas de sofrimento. Vi-a enfraquecer-se. Vi-a doente e com um misto de medo e de amor, estive ao seu lado, fazendo festas à beira da cama, para se sentir confortável e amada. 
De há dois dias, tenho sentido imenso a sua falta. Faz-me confusão não vê-la na sala de professores, de trocar mensagens marcando encontros. Faz-me confusão não entrar em casa dela, lavar as mãos e depois abraçá-la. Principalmente hoje, hoje que precisava tanto de por a cabeça no seu colo e ficar uma hora de olhos fechados.
As aulas começaram hoje. Revi os meus alunos, alguns colegas, os funcionários. Sorrisos rasgados por parte dos negros, que diziam "olá professor" e me faziam perguntas sobre as minhas férias, sobre os meus familiares. 
Ao almoço, vim para baixo, mas tudo se desmoronou no primeiro mergulho. Nos meus intervalos gosto de dar mergulhos na piscina do hotel perto de minha casa. Sabe bem boiar, ir ao fundo, sentar-me na espreguiçadeira e fechar os olhos. Vou lá muitas vezes, pois o serviço é bom e a internet é de graça. Muitas vezes vou lá pela internet. Para falar com meia dúzia de pessoas que me fazem falta. Desço o monte na esperança de as apanhar on-line, de receber notícias, e ouvir a voz delas. Hoje a voz não me foi agradável. Sinto-me impotente e chateado quando as coisas fogem do meu controle e quando pensamos que as relações que temos não devem ter regras. Sinto-me magoado de fazer um pedido que não é cumprido. Sinto-me desiludido quando me encobrem as coisas e descubro por outrem. Perco pedaços de mim e mando-me para a água, mantendo-me no fundo da piscina e saltando um berro de catarse. 
E no meio disto tudo, quem me amparou foi ela. Numa chamada. E só me apetecia ir embora e deixar para trás tudo aquilo que vim colher: tempo de serviço para estar mais confortável na cidade e ao lado da pessoa que partilho a vida. 
As relações não são de todo fáceis. Sei que temos de ceder, de compreender, de aceitar algumas coisas, mas, por outro lado, sinto que não posso perder a minha essência e o meu ideal relacional. Não devendo corroborar com as coisas que não partilho. E apetece-me deixar tudo para trás. 
Mas, se eu transformar e mudar a minha escolha, conseguirei dar volta à minha ansiedade e ao meu estado de espírito? Será mais fácil pensar que o universo tem uma força superior sobre as coisas e afinal não vim em busca de uma vida melhor e do bem-estar na minha relação no futuro? Que deveria pensar somente na minha vida profissional e por de parte o desejo de ser feliz numa relação?
Tenho tantas dúvidas e tento não penar nelas com medo de uma resposta oposta ao meu propósito inicial. 
Ao regressar para a escola, abstraí-me de tudo e no fim da aula, como de costume, li uma crónica minha. Falava sobre a minha mãe. Tive de parar, pois lembrei-me de uma das chamadas telefónicas e do meu soluçar pedindo-lhe ajuda. Continuei com um traço de frieza de mármore e no fim pedi ao alunos que me explicassem o que eu dizia no texto. 
Concluíram que o meu desejo é ser extraordinário como ela. Uma miúda tinha os olhos em lágrimas e naquele preciso momento obtive uma das respostas: vieste porque tens o coração de professor e não porque tens uma relação para o futuro. 
Mas, não poderei ter as duas coisas? Terei de ser só eu a sacrificar-me? Só poderei ter uma delas?
E vim para casa no escuro. Faltou a luz no cimo do monte e eu deambulei pela berma com mais tantas dúvidas. E continuo assustado, pois dentro de mim há uma enorme escuridão que me provoca medo. 
(tiremmedaqui)

segunda-feira, abril 21, 2014

A distância

O dias são lentos, mesmo quando temos muito o que fazer.
É fácil sentir-se isolado, mesmo partilhando a casa, com colegas à volta e fazendo o que mais gostas, quando te habituaste ter uma companhia  física. Custa partilhar por mensagens, custa viver no sobressalto de uma mensagem, do sinal verde do chat.
Há noites que acordo e vou ao telemóvel, para ver se vejo algumas palavras, como sinais de um abraço no meio da noite, ou do acordar e ver-te ao meu lado.
As palavras são sempre escassas quando estamos habituados ao toque, ao olhar e ao cheiro.
Por várias vezes pergunto-me se valerá o esforço, que me consome de hora após hora. Há dias, e hoje é um deles, que gostaria de morrer por alguns meses e acordar aconchegado por ti. Há dias, e hoje é um deles, que um abraço valeria imenso.
Dome bem.

(Mesmo chateado, pelos motivos que me são válidos, fazes-me falta. E eu peço que vejas os meus medos, que me assombram pela distância, como um copo cheio de tinta da china, que deveria estar expressa com palavras numa folha branca.)

Regresso

Há algum tempo que não publicava por estas bandas.
Uma pessoa acomoda-se, adere às novas redes sociais, onde publica o que faria sentido ser publicado aqui.
Muda de vida.
Recorda-se da que teve.
Pede para que tudo volte ao normal e, devagarinho, vai escrevendo coisas.

Aos poucos reponho a vida que aqui tive, mas agora em forma de diário, pois estou longe e para que qualquer doença mental que me afete, alguém tenha onde ler para mim aquilo que vivi.

Construímos memórias, mesmo que não escritas. São as memórias que nos alegram ou nos entristecem. É por elas que voltarei a escrever, independentemente de ter um público ou não.

Glaukwpis

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Palavras são palavras

E a gente nem percebe...

Eu sei que tenho um jeito meio estúpido de ser

E não vou deixar que ninguém se intrometa,

Pois é assim que eu sei te amar.

 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...