quinta-feira, novembro 22, 2007

Castanea, -ae


Sob um sol camuflado de ondas gélidas, caminho sobre ruas. Nela vejo rostos frios, brancos e engelhados, recônditos em malhas com borbotos. O vento corta-nos o rosto e os dedos, enquanto cego-me com a luminosidade. Já não há chuva. Já não há humidade. Há frio e nele concentro-me, tentando imaginar formas de me acalentar. Não falo a pele, pois gosto dela áspera, trémula e palpitante. Falo de outra coisa.
O cenário é acastanhado, de cor quente, mas só a cor é quente.
A cor será quente ou será uma ilusão utópica? Cheira a castanhas.
Utópica, castanha, fria, castanha quente. Confusão, eleição, desejo, mutação.
Glaukwpis
Amanhã é sexta :)

quarta-feira, novembro 21, 2007

/tchuba/

A estrada está molhada, como eu. Molhada de uma chuva fria e viscosa, onde perdura o seu brilho no negro alcatrão. Eu sinto-me molhado, mas não de chuva. Sinto-me viscoso, mas não de chuva. Não sinto culpa, nem arrependimento. Não tenho interesse, nem perjura. Porém, sinto-me encharcado de algo que não consigo definir, nem sequer compreender.
Desconfortante, mas apetecível. Doloroso, mas prazeroso. Confundível, mas certeiro.
Sinto-me molhado, esquecido, numa estrada, escura e viscosa.
Glaukwpis
Maldita chupa, caraças!**

terça-feira, novembro 20, 2007

Horrendus


Tenho a visão nítida, por entre noites sombrias e névoas gélidas.
O meu espírito move-se, ao encontro dos seres que vagueiam a minha volta, sem se aperceberem de mim. Não sou intacto, não sou inerte. Não me vêem. Eu vejo-os, acaricio-lhes os ombros e retraio sentimentos. Depois, viro-lhes, desmerecidamente, as costas, a procura de outras descobertas sensitivas. É frio, é húmido, é impessoal. É doentio, mas reconfortante, pois consigo ver tudo o que quero, sem ser contemplado. Consigo seguir o meu rumo, sem ser molestado. Tenho o meu prazer, sem ser censurado.
Ao fim, sento-me, cobrindo todo o meu corpo de lodo.
Fico contente por ser como sou.
Glaukwpis

segunda-feira, novembro 19, 2007

φτερό


Sinto, sobre os meus ombros, o peso de todo um sentimento acabado, sob forma de vidro, que me rasga, lentamente, as asas. As plumas, sofisticadas, cândidas, cintilantes e frondosas que me afagavam há tempos, deram lugar à uma pasta púrpura, da mistura do quente do meu sangue, que teima em escorrer, por um corte que não cicatriza.
Dantes sobrevoava planícies,
Hoje,
Deito-me sobre elas
E nelas
Cerros os meus olhos, aspirando conseguir dormir.
Voltarei voar? Pergunto eu.
Porém oiço que “Há animais que merecem rastejar, pois são perigosos demais para terem asas”.
Glaukwpis

quarta-feira, novembro 14, 2007

Planície imaginária

Há a necessidade de controle. De saber respirar, de olhar pausadamente na direcção precisa num ápice, onde se consegue captar, compreender e descodificar.
Dias incertos, com planícies onduladas, onde o friso do calor foge, dando lugar aos campos amarelos, cobertos de folhas castanhas e ervas bravias.
O tempo é de controle. É preciso controlar a alma que tremelica por causa do frio, ou, por desculpa dele, camuflando-se do medo sombrio dos nossos desassossegos. Como as folhas castanhas, eu caio sobre a terra gélida, ou por vezes nas poças matizadas de prateado, ficando inerte à minha vontade, decompondo-me em pensamentos até o meu esqueleto notar-se. No chão fico, calado e pesado. Não há ventos. Há frio. Não há controle.
É preciso controle. Onde ele está?
Talvez tenha fugido com o calor que um dia me acalentou. Talvez esteja escondido.
Talvez nunca tivesse existido, a não ser na minha planície imaginária.
Glaukwpis

 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...