Sobre a mão
Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso,
Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios,
Sem os espasmos de sofrimento e o cheiro a formol que me
banha,
Nas noites abusadas pela solidão.
Se pegasses na minha mão, saberia a importância da comunhão,
Dos dias que ansiei ao andar, ao teu lado,
No quente areal,
E das noites rasgadas por cacos de vidro a cair na imensidão
no negro do céu,
Enrolando dois dedos, de cada um de nós, como as nós dos
marinheiros de Ceuta.
Se pegasses na minha mão, saberias como elas transpiram,
Como aquecem,
Como tremulam,
Como irradiam luz pela chaga que a caracteriza.
Se pegasses na minha mão, seria mais um dependente,
Guiado,
Desorientado,
Necessitado,
Condescendente.
Pensando bem, não pegues na minha mão,
Colhe antes a minha alma,
Para a semeares nas lameiras,
Deixando que a água do rio a banhe,
E a adubes com esperança
Para colheres o fruto que te posso dar.