segunda-feira, abril 07, 2008

Past Simple


Decididamente devo andar com alguma doença que me afecta a vitalidade e me põe sonolento e sem genica para as coisas mais básica: como tomar banho, calçar-me e até cortar as unhas. Calma, ainda tenho bom aspecto e um ar limpo. Só tenho preguiça. Arrasto-me.
Para corroborar com o meu estado vegetal, ouvi na meteorologia que haveria trovoadas para Viseu. Aquele fenómeno que me deixa prostrado na janela a ver aquele rasgo incerto e profundo. Quando pequeno, punha-me de joelhos no sofá, de frente à janela, a verem os raios que lambiam e deslizavam sobre os fios de electricidade, onde geradores explodiam e eram acompanhados por chuvas de faíscas, que pareciam purpurina. Eu olhava para a minha mãe, ela esboçava-me um sorriso e dizia sempre: já fechaste a janela do teu quarto? Hoje as ruas vão encher.
Normalmente era calor. Não me apetecia fechar a janela e ligar o ar condicionado era um perigo. O alcatrão cheirava a piche queimado. As pessoas vinham a rua refrescar-se. Ninguém era corrompido por nenhum raio. Os mais novos brincavam e havia até quem pusesse baldes para encher, no intuito de depois servirem-se da água, para limpezas, ou para as plantas de casa. Havia alegria.
Agora, vejo por dentro do escritório um céu incerto. A espera da vitalidade daquelas pessoas que me contagiavam. Daquela gente parte de mim. Das “gentes” da minha terra.

2 comentários:

Anónimo disse...

Será que é esse o nosso mal? Saudades? cada um com a sua?

Temos de romper esta corrente agoirenta, Glau. Já não aguento.
Beijo.

Berenice disse...

:) bela descrição!!

 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...