domingo, agosto 02, 2009

Estrangeirados

Há três dias que a aldeia anda em festa.
Os carros rodopiam de um lado para o outro, com as suas matrículas estrangeiras. Chegaram a menos de duas semanas e já ocuparam as esplanadas, as ruas e até o ar que respiramos. Ouve-se francês, nas três vertentes, alemão, italiano e inglês. Movimentam a nossa economia, ocupam, desesperadamente, as vagas dos estacionamentos, perfumam as ruas com l'aeu-de-quelque-choise e fazem, pelo menos, em três semanas, uma vida, dita, confortável.
Há quem lucre com eles. Sobretudo as famílias que recebem peças do estrangeiro, perfumes-águas-pés e, como não podemos esquecer, um frigorífico cheio durante a estadia.
Nestes dias de festa, as pessoas acordam cedo. As mulheres correm contra o tempo em cima dos fogões, ao passo que os homens, descem, lentamente, a rua ao encontro dos cafés para o aperitivo, que se multiplica até à hora do almoço. Os bombos tocam. Os mais novos vestem roupas novas, compradas na superfície espanhola, as senhoras, entre uma pitada de sal, arranjam os cabelos cheios de laca, pensando na loiça que terão de lavar ao fim do almoço. Só depois é que poderão tirar as batas e sacudirem os vestidos cheios de naftalina. Dos homens, vemos as pulseiras douradas e os anéis com o brasão do nosso país. Passam por nós, dizem orgulhosamente bom dia, sô dótor, levantando o braço direito como sinal de simpatia.
São carecas, loiros, morenos, penteados. Todos estrangeiros do nosso país.

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 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...