quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Para a L. e L., com o carinho.

Ponho-me aqui no canto a ver as gatas a andarem com ar desconfiado, sabendo que lhes desorganizo o ambiente. Fico quieto, imóvel, olhando, de forma plácida, como me analisam. Sentem-se assustadas e desconfortáveis, no outro canto.
Rejeito-lhes os olhos, mas sinto-lhes as patas, rugosas e frias, a tocarem o soalho que não range. A medida que o tempo passa, criam uma confiança que as faz aproximar. Continuo no meu canto, com o olhar fixo na parede branca, inerte e inconsciente.

Rejeito-as, perco-me no branco e, a pouco e pouco, sinto-lhes o cheiro a pelo.

Cheiram-me, tocam-me com os bigodes.

Levanto-me, sem fazer caso, pondo-me noutro lado para não ser envolvido.

Elas vêm ao meu encontro.

Levanto-me, vou para o quarto e encosto a porta, como forma de rejeição.

Não as quero.

Não quero nada.

Ninguém.

Só a mim.

Elas não compreendem a rejeição. Arranham a porta, chateando os meus tímpanos.

Abro-lhes, deixo-as entrar e, rapidamente, põem-se aos meus pés.

Fico sem paciência para os ronronares e para as patas friccíveis. Chuto e meto-as no corredor.

Não me apetece o convívio, nem amar, seja o ser que/quem for.


Depois, volto a rever a minha atitude. Sinto mentira e nojo de mim.

Sem comentários:

 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...