sábado, fevereiro 06, 2010

Para o G.

Há muitos anos atrás, as corujas na Grécia faziam competições de voo. Umas eram peritas em rasantes, em piruetas, outras em mortais. Para além de voarem como verdadeiras águias, que eram as suas primas afastadas, costumavam ter o dom da palavra.

Costumavam aprender a falar desde muito cedo. Sabiam o alfabeto grego de trás para a frente. Também falavam latim e francês. Havia outras que arriscavam o inglês. O importante para elas era comunicarem, para que fossem eloquentes e muito boas conselheiras. Quando chegavam à adolescência, eram escolhidas pelos humanos daquele país para aconselhá-los nos caminhos difíceis da vida. Eram inteligentes!

Contudo, havia uma pequena coruja, que desde muito cedo, provocou grande aparato no mundo corujês… O seu ovo era torto e com pintas cor de rosa. As outras corujas bebés olhavam espantadas para o ovo matutanto do que sairia lá de dentro. No dia do seu nascimento, as suas irmãs discutiam em várias línguas, uma verdadeira torre de babel, quando o ovo, farto de as ouvir, rachou e a pequena coruja saiu de lá. Tinha os olhos muito arregalados, as penas espetadas na cabeça e umas asas tão pequenas que a coitada parecia mais uma codorniz. Olhava assustada para as suas irmãs. Impávida, porém assustada. As manas falavam que se fartavam e a mamã coruja, como andava a caçar minhocas, o ninho parecia um circo. As manas discutiam por a mais pequenina não falar. Debatiam-se, falavam alto, perdiam penas, maltratavam-se na língua do Egeu, até que a mais clara, num momento de desvario, mandou uma patada na outra por se enganar na gramática. A pequenina caiu do ninho e, como ainda não sabia voar, morreu estatelada no chão. A coruja acabada de nascer mandou um pio tão grande que fez com que a sua irmã assassina ficasse surda. Desde aquele dia nunca mais ouviu e, como tal, deixou de falar, confinando-se aos voos, ficando assim uma coruja estúpida.

A mamã coruja tinha visto tudo de longe e como achou que a nova bebé coruja era justiceira, decidiu dar-lhe o nome de Irina, em honra das Irinias, que eram figuras maléficas que faziam justiça com as próprias mãos quando um familiar matava o outro. Assim, a pequena coruja com ar de assustada, e muda como uma porta, começou a ser tratada por Coruja-Irina!

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Noutro dia continuo, quando estiver, igualmente, chateado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não perco o próximo episódio...

I.

 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...