quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Para Rosa Lobato

Rosa Lobato de Faria nasceu em Lisboa em Abril de 1932. Poetisa e romancista, o essencial da sua poesia está reunido no volume Poemas Escolhidos e Dispersos, de 1997. O seu primeiro romance, O Pranto de Lúcifer, veio a público em 1995. Seguiram-se-lhe Os Pássaros de Seda (1996), Os Três Casamentos de Camilla S. (1997), Romance de Cordélia (1998), O Prenúncio das Águas (1999), A Trança de Inês (2001), O Sétimo Véu (2003), Os Linhos da Avó (2004), A Flor do Sal (2005), A Alma Trocada (2007), A Estrela de Gonçalo Enes (2007) e As Esquinas do Tempo (2008).
É também autora de diversos livros infantis. Está traduzida em Espanha, França e Alemanha e representada em várias colectâneas de contos, em Portugal e no estrangeiro.
É também conhecida do grande público como actriz de televisão e cinema. Em 2000, obteve o Prémio Máxima de Literatura.
Morreu ontem, dia 02 de Janeiro de 2010.

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Hoje a aula de LP, no meu 6º H, foi dedicada a Rosa Lobato Faria. Levei numa ficha biobibliográfica da autora com um poema que me é muito particular. Antes de o ler, coloquei uma cadeira no centro da sala, dizendo que seria para ela, pois seria lida com respeito e admiração. Nas minhas aulas de estágio de latim, aprendi com os meus alunos que os poetas, depois de mortos, quando eram lidos na sala de aula, ficavam sempre sentados na parte de trás. Já o fiz este ano com Sophia e agora com Lobato. Pedi que recordassem a sua voz ( conheciam-na da série A minha sogra é uma bruxa) e lessem .
A aula foi de uma contemplação de sentimentos que senti-me realizado, como sempre me sinto, felizmente. Que ensinemos com respeito e admiração, para que fique algumas sementes de sensibilidade nas nossas crianças.
O poema é o mesmo que o A. pôs no blog e, de facto, é um dos mais belos.
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Quem me quiser há-de saber as conchas

a cantigas dos búzios e do mar.

Quem me quiser há-de saber as ondas

e a verde tentação de naufragar.

*
Quem me quiser há-de saber as fontes,

a laranjeira em flor, a cor do feno,

à saudade lilás que há nos poentes,

o cheiro de maçãs que há no Inverno.

*
Quem me quiser há-de saber a chuva

que põe colares de pérolas nos ombros

há-de saber os beijos e as uvas

há-de saber as asas e os pombos.

*
Quem me quiser há-de saber os medos

que passam nos abismos infinitos

a nudez clamorosa dos meus dedos

o salmo penitente dos meus gritos.

*
Quem me quiser há-de saber a espuma

em que sou turbilhão, subitamente

- Ou então não saber a coisa nenhuma

e embalar-me ao peito, simplesmente.

Rosa Lobato Faria

1 comentário:

Rogério Quintalheiro disse...

Esse poema saiu-lhe da alma, provavelmente. Uma grande perda. Abraço

 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...