- Stôr, os meus pais foram presos.
- Quando?
- Ontem. Arrombaram a porta de casa, apontaram-me uma pistola e levaram os dois.
- E sabes qual foi o motivo, rapaz?
- Por causa da droga.
Abracei-o, tinha o coração em gelatina, uma vontade terrível de chorar. Respirei fundo.
- Dá-me notícias, logo que saibas de alguma coisa, e nunca te esqueças que tens que fazer algo diferente do que os teus pais fazem na vida, para que não haja mais pistolas apontadas na tua cabeça!
Fui à direcção. Já sabiam. Não era a primeira vez que “O Santinho” tinha sido preso. Aliás, fora acusado de matar o pai do meu C. Parece-me que é desta que fica dentro, deixando quatro filhos: três na Cova ( a C., o meu R. e uma pequenina de apenas 8 meses, nascida na mesma semana do meu sobrinho) e um no 6 de Maio, encontrado há quase dois meses, com 12 anos, filho de uma outra relação.
Quando tenho as minhas crises de ansiedade, os meus desesperos humanistas e só me apetece marrar com a cabeça contra as rochas, penso, de forma racional, na vida dos meus garotos e vejo a vida de outra forma. Mais leve.
Ontem disseram-me que vou ter DT no 3º ciclo. O meu coração bateu tão forte e olhei nos olhos da pessoa que trazia a informação e disse:
- Vou ser pai.
Nunca mais chega Setembro.
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