quinta-feira, junho 10, 2010

Vidas

- Stôr, os meus pais foram presos.

- Quando?

- Ontem. Arrombaram a porta de casa, apontaram-me uma pistola e levaram os dois.

- E sabes qual foi o motivo, rapaz?

- Por causa da droga.

Abracei-o, tinha o coração em gelatina, uma vontade terrível de chorar. Respirei fundo.

- Dá-me notícias, logo que saibas de alguma coisa, e nunca te esqueças que tens que fazer algo diferente do que os teus pais fazem na vida, para que não haja mais pistolas apontadas na tua cabeça!

Fui à direcção. Já sabiam. Não era a primeira vez que “O Santinho” tinha sido preso. Aliás, fora acusado de matar o pai do meu C. Parece-me que é desta que fica dentro, deixando quatro filhos: três na Cova ( a C., o meu R. e uma pequenina de apenas 8 meses, nascida na mesma semana do meu sobrinho) e um no 6 de Maio, encontrado há quase dois meses, com 12 anos, filho de uma outra relação.

Quando tenho as minhas crises de ansiedade, os meus desesperos humanistas e só me apetece marrar com a cabeça contra as rochas, penso, de forma racional, na vida dos meus garotos e vejo a vida de outra forma. Mais leve.

Ontem disseram-me que vou ter DT no 3º ciclo. O meu coração bateu tão forte e olhei nos olhos da pessoa que trazia a informação e disse:

- Vou ser pai.

Nunca mais chega Setembro.

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 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...