quarta-feira, abril 07, 2010

Fuzila-me

Quando seguia para a POC, na rotunda da Damaia de Baixo, estava armado um verdadeiro circo. Não com palhaços com os rostos esborratados de branco, azul e vermelho, nem com a tenda fofa e imponente, nem com animais no trapézio. O circo era a PSP, solta e armada, com carabinas, ou lá o nome daquelas coisas, que não me apetece procurar no Google. Um verdadeiro aparato.

Segui o meu caminho, fui para a POC, fiz os relatórios do PNL, tecendo comentários filosófico-pedagógicos sobre a importância da leitura no ser humano. Uma antítese em termos comparativos com o que tinha visto. A beleza sobre os preceitos da leitura ao lado da imagem grotesca e bruta da rotunda da Damaia de Baixo.

Pensei mais um pouco e cheguei à conclusão de que muitos daqueles homens, com a minha idade, também leram Uma Aventura, Os Lusíadas e alguns poemas dos nossos contemporâneos. Fizeram parte das vivências deles as mesmas coisas que fizeram da minha. Um tronco comum de conhecimentos, que a dada altura, ficaram para trás, perdidos no tempo. Lutam por um mundo ordeiro, organizado, com regras… Para isso é necessário envergarem carabinas, cassetetes e pistolas. Quando eu, para conseguir a ordem, com os meninos, basto ficar calado, sentar-me na mesa, de forma pouco ortodoxa, e olhá-los fixamente, na espera que se acalmem por eles próprios e cheguemos à uma conclusão racional do sucedido. Dizem que não é nada fácil trabalhar com crianças e adolescentes, mas dou graças às aulas do meu secundário e a Profª Manela ter-me ensinado a ter sensibilidade, para ser calmo, para atingir a ordem, na minha desordem. Também agradeço aos meus pais.

Antes de regressar, fui trocar um pneu, sentei-me na valeta e estive a espera. Não tive medo. Ouvi berros, vi as crianças do ATL voltarem com os educadores, vi o casal de doidos, sentados na esplanada habitual, vi carros, fiz chamadas, fiquei chateado pelo meu dia e agradeci nunca ter imaginado ir para a PSP, GNR ou outra sigla autoritária.

É verdade, não consegui ver o mar. Vou amanhã.

Amadora conta? Arrr, intão num connnnnta?!


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 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...