quinta-feira, julho 02, 2009

Há 5 anos

Recordo-me de ler, em mais novo, os seus contos e, por vezes, aparecia um ou outro poema nos manuais do terceiro ciclo. Mais tarde, tive a sorte de ter uma óptima professora de L.P. que me fez apaixonar por Sophia.
Liamos os seus poemas de forma audível e clara, com todas as sílabas, como a própria autora assim o entendia. A verdade é que fluia e toda aquela verdade, purificação, desejo de liberdade saía de forma livre de dentro de nós. Provavelmente, muitos dos meus colegas não deram conta disso. Da leitura, abstraía-me do mundo e criava laços com o sujeito poético, pela sua força, e com a autora, pelos seus traços. Apaixonei-me.
A Profª M.P. ensinava-nos com rigor. Uma mão apertada nas notas, mas com os olhos azuis do mar, que Sophia tanto nos fala.
Há cinco anos atrás, acordei com a notícia e recordo-me de chorar, religiosamente, a sua perda. Aliás, a minha perda e de tantos outros. O meu avô tinha morrido há menos de um mês, mas era por ela que eu recordava momentos de leitura, das minhas aulas do 12º e do meu exame nacional. Por falar no exame nacional, lembro-me que o poema tinha sido estudado nas aulas. A M.P. entrou na sala e piscou-nos o olho. Soube-me tão bem. Senti-me completo, confortável, confidente. O mesmo exame foi a minha específica e com ela entrei na Faculdade de Letras, em clássicas, como Sophia. Ela, de facto, não terminou o curso. Escreveu sobre um Portugal de sentimentos, sobre mundos encantados, sobre relações familiares, sobre uma ideologia, sobre um mundo justo. Não leccionou, de forma directa, mas deixou-me a mim e a tantos outros esta tarefa. Hoje, sempre que inicio um dos seus contos, peço aos meninos que façam uma pesquisa sobre a sua vida e obra. Delicio-me e faço com que ela seja imortalizada. Peço, de igual forma, que leiam silába a sílaba, para que ela, do fundo da sala, nos consiga ouvir.
A foto é a que mais amo. Fumava, escrevia e bebia muito chá. É assim que a recordo quando cerro os meus olhos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem escrito, meu querido. Eu concordo, plenamente.

Glaukwpis disse...

Mas tu, embora barroca, tens muito de Sophia*

 Sobre a mão Se pegasses na minha mão e me guiasses pelo Parnaso, Os meus dias seriam menos sedentos e sombrios, Sem os espasmos de sofr...